Realizou-se em formato online, nos dias 15 e 16 de janeiro de 2021, o II Congresso de Treinadores de Triatlo
Na abertura do Congresso foram apresentadas algumas das conclusões preliminares do questionário realizado online, para o qual a FTP obteve, até ao momento, cerca de 700 respostas. O inquérito que, pela sua abrangência demora cerca de 10 a 15 minutos a ser respondido, incidiu sobre quatro temas: a caracterização da população do Triatlo, o atendimento da FTP, os hábitos de treino e o investimento despendido. 84% de respostas pertenceram ao sexo masculino, sendo as restantes 16% do sexo feminino. Notas importantes acerca deste inquérito: 48% pratica Triatlo há menos de 5 anos, com os grupos de idade 45-49 e 40-44 na frente, sendo o principal objetivo a superação pessoal. Cerca de 69% considera o atendimento da federação adequado às necessidades, com 75% a avaliar a arbitragem de modo adequado e justo. Nos hábitos de treino, há muitos triatletas que treinam sozinhos e sem acompanhamento técnico, com 37% a treinar entre 9 a 12 horas semanais. Curiosamente, 31% prefere a média distância, o que confirma o interesse dos triatletas pela distância acima da standard, embora seja a sprint a distância mais escolhida para a primeira prova. Concluindo, esta é uma comunidade muito ativa que dedica muitas horas semanais ao Triatlo, sendo um dos principais objetivos na modalidade a superação pessoal e a diversão!
Ainda pode responder ao inquérito aqui: https://bit.ly/3hMBFeJ 

O segundo palestrante do primeiro dia foi Henrique Telhado, que veio apresentar o tema da sua dissertação de Mestrado: «Fatores Psicológicos Preditores dos Tempos da Evolução e Desempenho no Triatlo». Os principais preditores são históricos (experiência em provas); fisiológicos (aptidão cardio respiratória, composição corporal e aptidão física) e psicológicos: (força mental e força
Este estudo quantitativo analisou apenas a associação dos fatores psicológicos e a evolução e o desempenho dos triatletas, ao longo do tempo, nas diversas distâncias do Triatlo.  O instrumento de investigação incluiu um questionário que contou com 208 respostas válidas, entre 88,5% de homens e 11,5 de mulheres. De acordo com o estudo, concluiu-se que o Triatlo é um desporto de grande exigência que requer uma variedade de técnicas e treinos para melhoria do desempenho, mas a evidência científica parece revelar nos que se os triatletas tiverem similares aptidões cardiorrespiratórias, aptidões físicas e número de triatlos realizados, são as características psicológicas dos triatletas que determinam o melhor desempenho.
Os indicadores apontam para uma análise holística do desempenho do Triatlo e sobretudo no que diz respeito aquilo que parecem ser as suas dimensões mais importantes: a aptidão respiratória, a aptidão física, o histórico de provas e os fatores psicológicos. Estes fatores devem ser estudados de forma longitudinal e experimental para melhor compreender a sua influência no desempenho do triatleta.

A terceira apresentação do dia foi realizada por Júlio Amândio, no âmbito do trabalho de investigação do Curso de Treinadores Grau III com o tema: «Poderá o Triatlo ser considerado opção na recuperação de doentes oncológicos?»

Sabemos que a atividade física é um dos pilares de uma vida saudável, e no caso de haver doença não faz sentido abandonar esse pilar que tanto contribui para a saúde e bem-estar, exceto em situações de restrição médica. Dado que o declínio físico do doente oncológico é grande e as capacidades física diminuem drasticamente, a prática de atividade física torna-se ainda mais relevante. A revisão bibliográfica parece indicar que o exercício físico é seguro antes, durante e após o tratamento, com exemplos de sucesso em caso de doentes oncológicos, que são frequentemente os primeiros a procurar ativamente aquilo que lhes faz bem, e que pode contribuir para o processo de sobrevivência. De modo geral, deve realizar-se uma alimentação equilibrada, evitar a inatividade e regressar às rotinas diárias sempre que possível. Dos 18 aos 64 anos deve-se treinar pelo menos 150 minutos por semana, complementando com dois treinos de força. A partir dos 65 anos estas recomendações continuam válidas, desde que se respeite a individualidade de cada caso. De referir que esta apresentação não tem base científica, trata-se de um estudo de caso com revisão bibliográfica que permite depreender algumas conclusões, mas que necessita de outros estudos complementares que possam ser validados pela ciência.

O segundo dia começou com uma representante da British Triathlon onde foi apresentado o programa de apoio aos Age Groups, incluindo o staff dedicado às suas necessidades específicas. Na equipa de Age Group na Grã-Bretanha existe o sentido de pertença, criando-se laços fortes entre os diferentes membros. A divulgação da equipa é realizada de modo informal, através das mensagens protagonizadas pelos próprios membros ou pelo equipamento usado pelos triatletas nas provas. A apresentação incidiu também sobre o programa de autofinanciamento, a seleção e qualificação dos atletas para a participação nas provas e as ações desenvolvidas para atrair novos Triatletas; esta é feita através de uma divulgação informal onde os novos membros são cativados pelo Team Kit e pela ideia de representar o seu país no estrangeiro, tornando-se uma grande honra fazê-lo através da sua federação.

Seguiu-se Joana Reis, professora e investigadora da Faculdade de Motricidade Humana, com o tema «A Manutenção e Declínio das Capacidades Físicas em Desportos de Resistência». A apresentação versou sobre três temas importantes: as alterações fisiológicas com a idade, o impacto do treino nas alterações fisiológicas e a carga e recuperação. Estes estudos assumem maior importância já que há cada vez mais desportistas e triatletas com idades mais avançadas e, por outro lado, existe uma maior aproximação da carga dos desportistas de elite e de grupos de idade, havendo inevitavelmente um decréscimo da performance que se acentua a partir dos 70 anos. O declínio pode ser travado através do exercício já que promove o aumento do metabolismo em repouso, o consumo de lípidos e a melhoria cardiovascular e do sistema nervoso. O treino complementar, também chamado treino concorrente, onde se inclui o treino de força, é especialmente importante pois promove o balanço proteico e as bases musculares para conseguir comportar maior carga e mais volume, e diminuir o risco de lesões, risco esse que sabemos aumentar com a idade.

Da parte da tarde, Paulo Martins, da Faculdade de Motricidade Humana, abordou o pertinente tema: «Gestão do Tempo e Carreira Desportiva em Atletas Amadores», onde coexistem três subtemas com os quais o atleta tem de lidar: a família, o trabalho e o treino. De um modo muito prático, o palestrante explicou algumas das questões que podem comprometer a performance, algumas delas transversais tanto a triatletas em formação como a triatletas veteranos. De um modo geral, qualquer transição na vida do atleta pode afetar a sua carreira e rendimento desportivo, como uma mudança de escola ou alteração profissional, havendo necessidade que o treinador esteja atento às questões da vida dos atletas para melhor conseguir orientar o treino.
No caso dos atletas veteranos, o stress pode ser originado pelo excesso de carga de treino, mas também se pode dever à carga emocional. O especialista refere que é entre os 40 e os 55 anos que mentalmente estamos no auge (pensar e sentir), mas a falta de correspondência biológica pode provocar desequilíbrios. De um modo muito prático, o palestrante falou na carga horária ideal de treino que permita ao atleta usufruir de uma experiência agradável e vontade de continuar, principalmente em idades seniores, em que o objetivo é «apenas» superação pessoal.

O Congresso terminou com uma mesa redonda online que contou com a presença de alguns dos principais organizadores de provas dirigidas a grupos de idade: Bruno Safara, organizador do circuito Swimrun, Hugo Sousa, organizador do Setúbal Triathlon e Jorge Pereira, representante do IRONMAN em Portugal. Cada um dos organizadores deu o seu contributo partilhando a sua experiência nas provas, de onde se retirou algumas ilações interessantes, entre elas a tendência para o crescimento do gosto pela longa distância em Portugal. Vários temas vieram para a ‘mesa’ , como o drafting e nas diferentes maneiras de o reduzir, uma delas através da consciencialização dos atletas veteranos que o objetivo principal da sua participação em provas de longa distância é a superação pessoal, pelo que não adianta facilitar essa meta connosco mesmos/as. Mas houve levantamento de outras questões como a formação dos árbitros, a preparação adequada dos triatletas, as formas diferentes de penalização e maneiras mais claras de as transmitir aos interessados. Os organizadores do Swimrun, do Setúbal Triathlon e do IRONMAN concordaram em vários pontos, entre eles que é necessário proporcionar uma experiência agradável aos atletas para que estes façam uma boa divulgação, assegurando o seu regresso à competição, sempre que possível.

Acreditamos que o sucesso deste II Congresso de Treinadores de Triatlo se deve à qualidade dos palestrantes, mas também à participação ativa dos treinadores, que contribuiram para enriquecer as apresentações. A FTP agradece a presença de todos.