Preparação física na prevenção de lesões, recuperação do treino e melhoria da perfomance foram os temas tratados.
Do painel de convidados fizeram parte um grupo multidisciplinar de profissionais: Ana Leite, Fisioterapia Desportiva, Carlos Bernardo, Preparação Física, Nuno Piteira, Medicina Desportiva e Joana Romão, Nutrição. Márcio Neves partilhou a sua experiência como triatleta, fazendo a ponte entre a teoria e a prática.
Como se concluiu na Tritúlia, a perceção dos triatletas amadores é que lhes falta tempo para se dedicarem ao treino físico, optando preferencialmente pelo treino técnico dos três segmentos para evoluir na modalidade. Márcio Neves iniciou a Tritúlia com a partilha da sua história de superação de lesão, explicando que os triatletas amadores canalizam o seu ‘precioso’ tempo para o treino da natação, ciclismo e corrida já que acreditam que lhes irá proporcionar melhores resultados. O triatleta explicou que «se houver melhores resultados com o treino, os triatletas continuarão a treinar sempre mais. Só quando, tal como me aconteceu, uma lesão nos prega um susto, é que se dá valor a outras coisas, nomeadamente a pausas ou descanso.»
Os profissionais presentes e inclusive o moderador Hélder Milheiras, também ele treinador, partilham da opinião que é importante um trabalho multidisciplinar, já que o treino técnico pode levar à exaustão e consequente lesão.
Ana Leite, fisioterapeuta, afirmou que «O melhor é apostar na prevenção de lesões, com um bom fortalecimento muscular e equilíbrio muscular e esquelético. Costumo dizer que ‘se deve cuidar do corpo da mesma maneira que se trata a bicicleta’, a máquina está sempre afinada! Mas se a lesão surgir e se não houver é inconveniente é preferível não parar completamente de treinar; caso não seja possível correr, pode nadar-se e/ou andar de bicicleta.
Carlos Bernardo, preparador físico, é de opinião que se deve fazer «um trabalho integrado com o fisioterapeuta de modo a perceber a origem da lesão, sensibilizando o atleta para a importância de exercícios de recuperação ou repouso, se for caso disso».
Nuno Piteira, médico, explicou que é necessário gerir psicologicamente a recuperação da lesão e a consequente total reabilitação sem se perder o foco de regresso aos treinos, mas sempre com os devidos cuidados. «A verdade é que nunca se sabe ao certo, depende do organismo e da fase que se está a passar, mas se a paragem for inferior à esperada, o atleta sente-se mais motivado».
Mas como mais vale prevenir do que remediar, Carlos Bernardo salientou que é preciso ‘sensibilizar os desportistas e os triatletas para a importância de treinar no ginásio’ porque aqueles que procuram um treino deste género são habitualmente triatletas a partir de certa idade já com algumas lesões. «Neste sentido, seria positivo começar com atletas mais jovens criando desde cedo hábitos de treino equilibrados antes de surgirem mazelas».
Um mito que existe, segundo o preparador físico, é que o treino físico torna as pessoas mais pesadas por causa do aumento da massa muscular, o que interfere negativamente na performance dos atletas. «É possível programar o treino para ganhar força sem se ficar com massa muscular exagerada, que pode traduzir-se em potência o que irá beneficiar o triatleta. Tudo depende dos objetivos e da parte da época em que estamos». Mas Carlos Bernardo alerta também para a situação que, de modo geral, falta aos atletas um trabalho complementar de estabilidade e mobilidade.
É verdade que existem mais lesões e segundo Hélder Milheiras, «os atletas treinam muito, demasiado para os resultados que obtêm, o que pode significar que é necessário fazer qualquer coisa diferente.» Carlos Bernardo em resposta à falta de tempo (real) dos triatletas deixa um conselho: «Às vezes um aquecimento de 10 minutos pode fazer muito pelo atleta que, sem se gastar muito tempo, reduz significativamente o risco de lesão».
A propósito deste tema e do confinamento surgiu no Facebook uma questão pertinente: «Quais as patologias que poderiam advir de uma utilização excessiva dos rolos nas bicicletas, uma situação que aconteceu aos triatletas na altura do confinamento?». Ana Leite, fisioterapeuta, respondeu que «o problema maior é mesmo se a bicicleta não estiver adaptada da melhor forma ao atleta. No entanto, um uso mais intensivo de rolos poderá levar a sobrecargas no quadricipete e isquiotibial que pode originar queixas a nível do joelho, o que facilita descompensações nos gémeos (para dar um exemplo) com uma repercussão direta na corrida. Com a posição estática curvada à frente poderão também surgir queixas na região lombar, reforçando a necessidade de um trabalho de compensação que por vezes é negligenciado».
Do ponto de vista nutricional, Joana Romão, deixou uma sugestão: «Uma alimentação adequada irá contribuir para a diminuição do tempo necessário à recuperação, irá ajudar no processo de regeneração tecidual e simultaneamente estimular a manutenção do peso, que tende a aumentar por diminuição da atividade física. Por tudo isto, esta é a altura ideal para procurar ajuda personalizada juntos dos profissionais».
Foi a 4ª. Tritúlia dedicado ao tema da preparação física, um tema que suscitou o interesse de todos os triatletas, independentemente do nível ou da experiência.
A próxima Tritúlia, que terá como tema ‘organizações de provas’, irá passar na página de Facebook da FTP no dia 9 de julho a partir das 21h.
Bons treinos!